a Marcha das Vadias: o corpo da mulher e a cidade*
Diana Helene (IPPUR/UFRJ) <http://crocomila.blogspot.com>
“eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que escolhi
e poder me assegurar, que de burca ou de shortinho
todos vão me respeitar!” 1
As Slut Walks começaram no ano de 2011 em Toronto, Canadá, e se espalharam rapidamente. Em função da internet a notícia da realização da primeira marcha correu o mundo, fazendo mais de 200 cidades a reproduzirem poucas semanas depois2. No Brasil, ganharam o nome de “Marcha das Vadias3” e aconteceram em cerca de 30 cidades diferentes4. Segundo Jessica Valenti os protestos se espalharam de forma viral e tornaram-se, em poucos meses, “the most successful feminist action of the past 20 years”5.
Uma das características mais interessante das Slut Walks é que tanto sua organização, quanto sua reprodução acontece de forma descentralizada, com a internet como meio de propagação, organização e repercussão. Muitos protestos contemporâneos têm base na popularização das recentes tecnologias de informação e comunicação: a internet aliada a aparelhos celulares multi-funções, máquinas fotográficas e filmadoras, tem construído uma gama de conteúdos digitais que estão em constante troca, contraposição e retroalimentação em redes sociais, blogs, etc. Por essa razão, esse artigo se utiliza dos discursos construídos pelos participantes e ativistas das marchas por meio da internet, bem como sua reverberação neste meio, na reivindicação de uma nova relação entre o corpo da mulher e a cidade.
As lutas de libertação das mulheres tem historicamente o caráter da escala do corpo: do controle de fertilidade às políticas de aborto, punições às violências sexuais e outras invasões ao corpo da mulher sem consentimento, maneiras de se vestir, mutilação/alterações corporais marcadas pelo gênero, chegando aos lugares que o corpo da mulher pode acessar na escala urbana, saindo do âmbito “doméstico”, para as ruas.
De acordo com Paola Jacques e Fabiana Brito, os corpos e as cidades se estabelecem por meio de relações mutuamente definidoras: além dos corpos ficarem inscritos e contribuírem na formulação do traçado das ruas e nas configurações urbanas, as memórias corporais resultantes da experiência de espacialidade também ficam inscritas e contribuem na configuração de nossos corpos. De acordo com essa perspectiva, a experiência urbana se inscreve nos corpos ao mesmo tempo que os corpos ficam inscritos nas cidades (as cidades são “memórias espacializadas dos corpos”). Essa cartografia corporal foi denominada pelas autoras de “corpografia urbana” (Britto, p. 14-15 e Jacques, p. 114).
Essa cartografia dos corpos pode ser observada na maneira como eles se estruturam como mapas de poder e identidade. Segundo Donna Haraway (2009: p. 96), as novas relações entre tecnologia e natureza estão configurando outras possibilidades de atuação política corporais para as mulheres, visto que o desenvolvimento tecnológico, como a internet por exemplo, possibilitam mais espaços possíveis de re-codificação para subverter o comando e o controle.
#SlutWalk
As Slut Walks não surgiram do movimento feminista, apesar de se alinharem a ele. As criadoras da primeira marcha, Sonya Barnett e Heather Jarvis, não se consideram ativistas feministas institucionalizadas6. O motivo da realização do primeiro protesto foi a indignação que elas e outras mulheres sentiram, durante uma palestra sobre segurança no campus universitário da York University de Toronto no dia 24 de janeiro de 2012, ao ouvir um representante da polícia da cidade afirmar que: “women should avoid dressing like sluts in order not to be victimized”, ou seja, que as mulheres deveriam se preocupar em não sair nas ruas se vestindo como uma slut (vadia, puta, etc) para não serem estupradas7. Muitas pessoas repudiaram essa declaração, e a organização policial da cidade recebeu vários pedidos de retratação, pautando debates na opinião pública sobre o tema, principalmente pela internet8.
Dessa forma, essas duas mulheres tiveram a ideia de realizar uma Slut Walk, parodiando o termo usado pelo policial com o intuito de mostrar – performaticamente, por meio de seus próprios corpos marchando na cidade – que as peças de roupas, certo modo de se comportar ou certos lugares que as mulheres circulam nas ruas não deveriam ser considerados os culpados nos casos de estupro, violações, abusos e violência – a culpa deve ser sempre do agressor. Para isso, criaram o evento na rede social Facebook, que rapidamente agregou diversas pessoas, entre elas, organizações feministas e/ou contra violência de gênero, que também queriam fazer algo para contrapor a colocação do policial.
Assim, apenas 6 semanas após a declaração do policial, no dia 3 de abril de 2011 acontece a primeira Slut Walk, que sob o lema “whatever we wear, wherever we go, yes means yes, and no means no9” agregou 4 mil pessoas10. Uma das coisas mais interessantes do evento, segundo as próprias organizadoras, é como o protesto conseguiu reunir uma quantidade tão diversificada de pessoas, inclusive muitas que nunca tinham se engajado num movimento reivindicatório antes, pessoas que conheceram a ideia pela internet e apoiaram11. A notícia da marcha em Toronto se espalhou rapidamente por meio das redes digitais e dessa forma começou a ser replicada pelo mundo, se utilizando para organização e divulgação as plataformas de comunicação digitais da internet. Segundo o sítio do Slut Walk de Toronto: “What began as a reaction to one comment, a reaction that we had originally imagined only to include a handful of our closest friends, exploded into a kind of movement that we never could have expected”12.
No Brasil, a primeira marcha aconteceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de junho de 2011, organizada pela iniciativa de uma mulher que descobriu o evento de Toronto lendo as notícias de um sítio na internet13. Com a ajuda de alguns amigos, ela criou o evento no Facebook, da mesma maneira que as organizadoras originais do Canadá, e rapidamente mais de 6000 pessoas confirmaram sua presença (entrevista via e-mail com Madô Lopez – Marcha das Vadias de São Paulo, dia 15/06/2011). A marcha agregou cerca de 300 pessoas que desfilaram nas principais vias da cidade14.
O destino final foi uma casa de comédia, na qual um dos seus integrantes havia feito uma piada com apologia ao estupro15. As manifestantes fizeram um ato de encerramento em frente ao teatro, colando os cartazes que carregavam na fachada do local. Esta ação se repetiu em outras marchas que aconteceram no Brasil, escolhendo locais ícones para o ato final dos protestos, espaços que se relacionam com a manutenção da violência/domínio sobre o corpo feminino, como delegacias de polícia e igrejas. Esses atos finais performáticos, exemplificam o diálogo que a marchas pretendem fazer entre seus corpos e os espaços urbanos, como veremos mais adiante.
Nesse sentido, vale ressaltar como a realização das marchas alavancou a criação de coletivos feministas, que se estabeleceram para além dos protestos, passaram a se encontrar e realizar outros eventos. Muitas integrantes desses coletivos não estavam engajadas em nenhum tipo de luta feminista anteriormente, ou mesmo em nenhuma atividade de contestação social. Outra característica desses coletivos, grupos e organizações das marchas é serem compostos por mulheres jovens. Quanto à organização interna desses coletivos, em geral caracterizam-se por serem horizontais e descentralizados: não existem funções específicas definidas e a internet é uma ferramenta essencial para o debate e organização interna. Em geral, a divulgação das marchas se inicia pelo Facebook, seguida da criação de materiais específicos para divulgação: blogs, cartazes digitais, banners, vídeos, entre outros exemplos. A Marcha das Vadias de Brasília, por exemplo, elaborou cartazes digitais para divulgação do ato, chamada “Campanha Fotográfica – Feminista Por quê?”18. Os cartazes carregam lemas feministas e outros temas relacionados à realização da marcha e tem o formato para visualização e distribuição pelas redes sociais digitais. Foram feitos 52 cartazes, divulgados na internet um a um, ao longo dos dias que antecederam a marcha.
O CORPO DA MULHER E A CIDADE
Wife in the kitchen. Whore in the street 19 (Agrest, 1988: p. 37).
Segundo o sítio da Slut Walk de Toronto, o termo Slut foi escolhido por ser uma denominação historicamente depreciativa em relação as mulheres. Por isso se deu a proposta de uma “reapropriação” da palavra, de modo a colocar nela outros valores, visto que o termo e suas traduções é carregado de uma simbologia fruto de “uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em ‘santas’ e ‘putas’”20. Ou seja, as marchas contestam as simbologias que carregam os corpos das mulheres dependendo de sua maneira de vestir, agir e locais que frequentam na cidade. Isso porque, a organização generificada do espaço da cidade ainda é marcada pela existência de dois papéis exclusivos destinados às mulheres: ou você é “vadia”, “vagabunda” e “puta” (slut) / ou você é “esposa” e “moça de família”. Cada um destes papéis tem seu lugar simbólico na cidade: a esposa deve permanecer confinada às funções e ao espaço do “lar”; e as prostitutas restritas às funções e ao espaço destinado à prostituição (certas ruas da cidade, bordéis e as “zonas” de prostituição). A mistura entre as partes desse sistema de ordenação e classificação da sociedade refletido no espaço urbano “ofende a ordem” (Douglas, 1966: p.12) e essa ameaça de contaminação é contida por ações – muitas vezes violentas – de manutenção do status quo. Os modos de gerir essa força sociológica e cultural regida pela sexualidade “se realizam pela instituição de mecanismos repressivos, muitas vezes perversos” (Simões, 2010: p. 35). A esposa apanha do marido se não seguir as regras domésticas (obediência, servidão e fidelidade); e as vadias, que arriscam sair nas ruas vestindo de certo modo, em certos horários, em certos lugares, agindo de certa maneira, exercendo livremente sua sexualidade e/ou trabalhando como prostituta serão estigmatizadas, maltratadas e/ou violentadas por qualquer um que se achar no direito de fazer isso.
Assim, desde muito novas as mulheres aprendem a temer, se proteger e a ficar todo o tempo atentas aos locais que circulam nas cidades. Elas são impedidas de acessar e/ou têm de evitar certos locais de “perigo” como praças vazias, ruas desertas, vielas e becos mal iluminados, etc; com muito mais frequência que os homens21. Além do “temor” internalizado ao espaço público que se impõe aos seus corpos, estes ainda precisam ser cuidadosamente organizados por meio de certas roupas, posturas e movimentos que não “atraiam” os possíveis violentadores. São restrições que atravessam o corpo da mulher na sua relação de vivência cotidiana na cidade.
A transição da mulher entre o espaço da casa e o espaço urbano, reflete a conquista feminina gradual da esfera pública e política.Até o início do século 20, as ruas eram pouco utilizadas pelas mulheres, principalmente pelas da elite: “o espaço público burguês era conformado como essencialmente masculino e a mulher dele participava como alguém que vivia em território alheio (Rago, 1991: p. 57)”. A casa em que moravam era geralmente fechada, com aparatos arquitetônicos especiais que impediam a visualização dos olhares exteriores (muxarabis e gelosias), com poucos contatos com a vida exterior. A mulher, até então, era um objeto recluso dentro das casas. Com o advento do uso e circulação das ruas da era moderna, essa característica começa a mudar gradualmente, e sua entrada no espaço urbano é marcada pela criação de demarcações que as diferenciem e as separarem das “mulheres públicas”, ou seja, que não as façam parecer com “seu oposto”: as prostitutas. Assim, a prostituição foi sendo constituída como um “fantasma” – “parâmetro limite para o comportamento feminino no espaço urbano” (Idem, p. 54) – para, dessa forma, regular as mulheres que pretendiam entrar na vida pública. Dessa forma, a “mulher fora do lar”, precisou monitorar seus gestos, aparência e roupas para não ser confundida com a “figura dissoluta” da “mulher da rua”. Assim, são constituídas “nítidas diferenciações entre as duas figuras femininas, polarizando-as” (Idem, p. 39-40), de maneira que a “roupa se transformava num sistema semiótico e a preocupação em definir claramente a diferença entre as ‘honestas’ e as ‘mulheres de vida airada’ ficava mais premente” (Idem, p.115).
A entrada da mulher no espaço público e sua saída da vivência reclusa do âmbito privado incomodava de várias maneiras, e essa transição passa por diversos entraves, que até hoje interditam o direito à cidade das mulheres. Segundo Nadja Monnet, o corpo feminino nas cidades ainda é um “corpo estrangeiro”, que paradoxalmente “dans la rue, sur une place publique, la même femme qui est «invisibilisée» en tant que sujet social souffre d’une «hypervisibilisation» en tant qu’objet d’attention (Monnet, 2009: p. 15)22”. Nesse sentido, as marchas buscam ressaltar a questão de que lugares e de que forma o corpo da mulher percorre a cidade, marcados por esses dois papeis femininos opostos. Um dos temas abordados pela Marcha das Vadias é a “cultura de estupro”, um conceito feminista que contesta as representações e crenças que naturalizam a violência contra a mulher. Vale lembrar, que o Brasil é o 7º país em homicídio de mulheres (feminicídio); aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano e a cada 20 segundos uma mulher é vítima de violência no país (Waiselfisz, 2011: p. 16)23.
Por essas razões, as Marchas das Vadias atuam performaticamente na cidade, e se utilizam de símbolos de contaminação à ordem, “bagunçando” as classificações acerca da mulher. No ato-ritual as manifestantes se utilizam de simbologias “vadias”, numa proposta de desmistificação dessas representações: “invadem” as ruas da cidade com roupas excessivamente curtas, meias arrastão, sutiãs à mostra, peitos nus, placas coloridas e/ou os corpos pintados com diversos frases e dizeres: “O corpo é meu!”, “Acredite ou não, minha saia não tem nada a ver com você”, “Nada justifica o estupro”, “Meu corpo minhas regras”, “Sou minha, só minha, e não de quem quiser”, entre outros. Além disso, muitas manifestantes realizam performances, pequenas cenas e outros atos teatrais de protesto. Existem ainda, as músicas entoadas pelas mulheres, compostas especialmente para as marchas.
Segundo Ana Clara Torres Ribeiro, as ruas são o palco ideal para performances de ruptura da reprodução sistêmica do cotidiano: “essas ações corporificam, na encenação da experiência urbana, o descarte, por alguns instantes, de controles que tolhem a invenção (e inversão) de posições sociais nos fluxos urbanos” (Ribeiro, 2010: p. 31). Isso porque, esse sujeito corporificado, atua sua performance do modo a se opor aos modelos de cidade e de urbanidade que o excluem, constituindo um embate simbólico de dimensões subjetivas e cognitivas de poder (Idem, p.32). Segundo Jacques são ocupações, profanações e apropriações do espaço público com o intuito de construir/propor novas experiencias urbanas, para perturbar a aparente ordem estabelecida no espaço publico – “um escape da hegemonia das imagens consensuais”- na qual o uso do corpo é prioritário (Jacques, 2010: p. 117). Para Diana I. Agrest, a cidade é o cenário social para a mulher expressar publicamente sua luta, ao deslocar-se para fora da instituição onde ela e seu corpo tem um lugar atribuído (a casa): “the street is the scene of her writing24” (Agrest, 1988: p. 40).
“Meu corpo, meu campo de batalha25”
Em 1850, aconteceu uma revolução a partir de uma modificação no modo de vestir feminino (conhecida como a “Reforma dos Trajes”): a invenção de uma calça-saia chamada “bloomers”, que instituiu o fim do uso exclusivo de calças para homens. Do mesmo modo que a repercussão em torno da Marcha das Vadias, as mulheres que ousavam usar estas calças eram chamadas de vulgares, indecentes e ridículas (Wilcox, 1958: p. 300-301 e 323). No começo do século XX, se iniciou uma “guerra contra o espartilho”, e no final dos anos 60 as manifestações de “queimar sutiãs”, que se tornaram um símbolo feminista. Esses são fatos que demonstram como opera a disputa simbólica acerca das marcações corporais, na qual as roupas são artifícios que, além de demarcarem as fronteiras da divisão entre os gêneros masculino e feminino, registram marcações hierárquicas de poder.
Como vimos anteriormente, além das vestimentas, existem as posturas “corretas”, modo de se locomover, caminhar, sentar, se expressar, etc. Todas essas regras corporais refletem o rebatimento nos corpos das estruturas sociais, ou seja, os processos classificatórios que operam na sociedade os configuram, moldam sua forma e sua expressão. Além do gênero, as distinções de classe, de raça e de uma multiplicidade de outros aspectos “se acham inscritas no corpo humano em virtude dos diferentes processos sociológicos que exercem ação sobre esse corpo” (Harvey, 2004: p. 137). Ao mesmo tempo, estes corpos carregam e transmitem signos e significados simbólicos quem tem a função da manutenção das mesmas classificações e estruturas sociais de poder que os demarcam.
Por essas razões o feminismo e o movimento queer atuam na disputa político/ideológica/empírica acerca das configurações corporais, utilizando o próprio corpo como plataforma, constituindo um “corpo político”, um corpo agente na esfera pública e política. Nesse sentido, as Marchas das Vadias tem como característica primordial a configuração e o uso do corpo como plataforma de suas reivindicações: um corpo performático, que se utiliza da marcha como ritual de performance coletiva.
Uma ferramenta performativa-corporal ritualizada nas marchas é o Peitaço26, na qual as mulheres marcham coletivamente com os seios a mostra, e os dorsos nus pintados com diversos dizeres. No Rio de Janeiro aconteceu o único conflito de todas as marchas, quando uma série de mulheres com os seios de fora se prostraram em frente a uma igreja – que estava em missa – a polícia militar entrou em confronto com as manifestantes chegando a usar spray de pimenta para expulsar as mulheres do local. Na internet, fotos da marcha com cenas de peitaços foram censuradas nas redes sociais, fazendo as ativistas replicarem de forma ainda mais intensa as mesmas.
VADIA?
Do mesmo modo, que as marchas se espalharam pela internet, a reverberação negativa em relação aos protestos foi proporcionalmente massiva. Dentre os comentários em blogs, vídeos, álbuns de fotos, reportagens e outras divulgações acerca das marchas, os mais comuns são: que as manifestantes não tem o que fazer e que deviam “ir pro fogão” ou “lavar a louça”; que as marchas fazem as mulheres “de verdade” passarem vergonha; e/ou que existem coisas muito mais importantes para protestar (saúde, educação, etc). Além das ofensivas grosseiras existe as réplicas de religiosos e outras entidades patriarcais tradicionais:
Manifestações insidiosas estas que vêm acontecendo ultimamente. A culpa do crime de estupro não deve ser imputada à mulher – e não é isto que defendemos. Mas, sim, roupas indecentes desfiguram qualquer criatura. Boa parte de nossas mães e esposas não concorda com esta Marcha das Vadias, e o motivo é simples: para ser livre, uma jovem não precisa ser vadia; para ser livre, uma jovem precisa ser modesta. 27
Em São Paulo, houve ainda a tentativa de organizar uma “anti-marcha” das vadias, intitulada “Marcha das Divas”, sob o lema: “até para pedir respeito, temos que ter respeito”. A “contra-marcha” afirmava lutar também pelo fim da violência contra mulher, porém sem ter que “tirar a roupa” para isso. Foi criado um evento no Facebook, que recebeu tantas represálias de simpatizantes e participantes das Marchas das Vadias, que os organizadores desistiram de fazer o ato28.
Por fim, se destacam as críticas realizadas por feministas, que giram em torno do questionamento do uso do termo slut, sugerindo que a tentativa de recuperar a palavra é contraditória. Ou seja, ao protestar pelo direito de serem chamadas de vadias, as mulheres estariam jogando o jogo patriarcal de poder: “o viés é mesmo nos apropriarmos dos termos e caricaturas, como se a partir disso toda a história de opressão desaparecesse sob um novo rótulo libertário?29”. Outra crítica é que a apropriação do termo teria impactos desproporcionais para mulheres negras e/ou pobres. Segundo Harsha Walia, a história do genocídio contra as mulheres indígenas, a escravização de mulheres negras, e a esterilização forçada de mulheres pobres vai além de seus trajes: é um meio de controle de gênero incorporado nos processos de intersecção entre racismo e colonialismo. Para Harsha, a experiência de mulheres pobres, marginalizadas e/ou de cor com a violência e a culpabilidade da vítima não é apenas quantitativamente diferente mas também é qualitativamente diferente30.
Uma das réplicas mais divulgada na internet, foi feito por uma ex-prostituta, Rebecca Mott:
I will never reclaim the term Slut – for I will never allow the male violence and hate to the prostituted class to made even more invisible by women saying it ok to be called Slut. Slut is a male term of deep contempt and hate for all women and girls – but for the Ultimate Slut, men are saying she is nothing but a thing he will fuck into trash. How is it possible to reclaim that? (…) I cannot forget the poison of that term – I bloody wish I could. 31
Rebecca crítica ainda, que sair vestida de puta no meio de uma multidão igualmente fantasiada de puta, é muitas vezes feito a partir de uma posição de profundo privilégio.
“Mexeu com uma, mexeu com todas32”
A culpabilização das vítimas de estupro em função de seu modo de agir (ou do seu trabalho, como é o caso das prostitutas), de seu modo de vestir ou que lugares circulam na cidade são mitos que as feministas tentam desmascarar há muito tempo. Mesmo considerando a contradição acerca das marchas e do uso do termo slut, os protestos alcançaram uma escala mundial de debate na opinião pública de uma maneira que nunca aconteceu antes nas lutas feministas33. Nesse sentido, as Marchas das Vadias atualizam um discurso reivindicatório do corpo da mulher sobre a cidade, demonstrando que as bipolaridades que dividem e estigmatizam as mulheres entre santas e putas, marcadas ainda pela divisão espaço público e privado, são interdições que ainda precisam ser superadas. Isso transparece quando os atos são reafirmados, reconstruídos e disseminados simbolicamente nas plataformas virtuais (vídeos, textos e imagens) ao longo do mundo – configurando uma relação de intermediação entre corpo, cidade e tecnologia – estabelecendo uma reverberação mundial de dissensos, contaminações e agrupamentos diversos. Esta relação corpo-cidade-internet anuncia uma nova maneira de atuar para as organizações feministas (e para atuação de outros movimentos sociais), que atualizam as lutas contra as interdições sobre os corpos femininos, que estigmatizam tanto a mulher trabalhadora prostituta, como o uso igualitário da cidade pelas mulheres como um todo.
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Referencias Bibliográficas:
AGREST, Diana I. “Architecture from without: Body, Logic, and Sex” . In: Assemblage No. 7. MIT Press: Cambridge (USA), Oct. 1988 (p. 28-41).
BERTARELLI, Ernesto. “A guerra contra o espartilho”. In: Estado de São Paulo – Quinta-feira, 21 de setembro de 1911 (Arquivo Estado).
BRITTO, Fabiana D. “Co-implicações entre Corpo e Cidade: da sala de aula à plataforma de ações”. In: Jacques, P.B. & BRITTO, F.D. (Orgs.) Corpocidade: debates, ações e articulações. Salvador: EDUFBA, 2010 (p. 12-23).
DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo. Editora Perspectiva: São Paulo, 1976
HARAWAY, Donna J. “Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX.” In: TADEU, Tomaz (Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2009 (p. 33-118).
HARVEY, David. Espaços de Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
JACQUES, Paola B. “Zonas de Tensão: em busca de micro – resistências urbanas”. In: Jacques, P.B. & BRITTO, F.D. (Orgs.) Corpocidade: debates, ações e articulações. Salvador: EDUFBA, 2010 (p. 106-119).
MONNET, Nadja, “Qu’implique flâner au féminin en ce début de vingt et unième siècle? Réflexions d’une ethnographe à l’œuvre sur la place de Catalogne à Barcelone” . In: Wagadu [online] – Volume 7, Fall: 2009 .
RAGO, Margareth. Os Prazeres da Noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930). Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1991.
RIBEIRO, Ana Clara T. “Dança dos sentidos: na busca de alguns gestos”. In: Jacques, P.B. & BRITTO, F.D. (Orgs.) Corpocidade: debates, ações e articulações. Salvador: EDUFBA, 2010 (p. 24-41).
SIMÕES, Soraya. S. Vila Mimosa: etnografia da cidade cenográfica da prostituição carioca. Niterói: EdUFF, 2010.
WAISELFISZ, Julio. “Caderno complementar 1 – Homicídio de mulheres no Brasil”. In: Mapa da Violência 2012 – Os novos padrões da violência homicida no Brasil. São Paulo, Instituto Sangari, 2011.
WILCOX, R. Turner. The Mode in Costume. Charles Scribner’s Sons: New York, 1958.
NOTAS
* Texto original publicado em: HELENE, Diana. “a Marcha das Vadias: o corpo da mulher e a cidade” In: REDOBRA 11 [ano 4, número 1], CORPOCIDADE 3, 2013, PP. 68 -79 (acesse online: http://www.redobra.ufba.br/)
1 Canto entoado pelas mulheres na “Marcha das Vadias” de 2011 no Rio de Janeiro – Brasil. In: HELENE, Diana. “Se cuida seu machista, a América latina vai ser toda feminista”. Disponível em: http://mstrio.casadomato.org/se-cuida-seu-machista-a-america-latina-vai-ser-toda-feminista/(último acesso 27/06/2012)
2 Países que já realizaram Slut Walks:Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul, Alemanha, França, Holanda, Suécia, Escócia, Portugal, Israel, Dinamarca, Espanha, Índia, Singapura, Nova Zelândia, Honduras, Austrália, Coreia do Sul, Nepal, Romênia, Argentina, México, Nicarágua, Equador, Colômbia e o Brasil (mapeamento na internet – 2012).
3 A tradução do termo original Slut Walk se manifestou de diferentes formas, devido as diferentes palavras usadas para designar uma slut. No estado do Ceará, por exemplo, foi utilizado o nome “Marcha das vagabundas”. Em Portugal “Marcha das Ordinárias” e “Marcha das Galdérias”. Na maioria dos países de língua espanhola o nome escolhido foi “Marcha de las Putas” (mapeamento na internet – 2012).
4 Cidades brasileiras (por estado) – Paraíba: João Pessoa; Ceará: Fortaleza, Barbalha; Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Esteio, Pelotas, Santa Maria; Mato Grosso: Cuiabá; Mato Grosso do Sul: Campo Grande, Dourados; São Paulo: Araraquara, Campinas, São Paulo, São Carlos, São José dos Campos; Paraná: Curitiba, Criciúma, Londrina; Pernambuco: Recife; Maceió: Alagoas; Amapá: Macapá; Pará: Belém; Distrito Federal: Brasília; Minas Gerais: Belo Horizonte, Juiz de Fora; Bahia: Salvador, Itabuna Espirito Santo: Vitória; Rio Grande do Norte: Natal; Santa Catarina: Florianópolis; Rio de Janeiro: Rio de Janeiro; Sergipe: Aracaju; e Goiânia: Goiás (mapeamento na internet – 2012).
5 A mais bem sucedida ação feminista nos últimos 20 anos (tradução livre). In: VALENTI, Jessica. “SlutWalks and the future of feminism”. The Cap Times. Junho de 2011. Disponível em: http://host.madison.com/news/opinion/article_bcd1828b-7c59-5115-bee4-a7fddb9482b1.html#ixzz1yLf8tCGc/ (último acesso 26/06/2012)
6 LORI. “The Feministing Five: Sonya Barnett and Heather Jarvis” (entrevista). Feministing. Abril de 2011. Disponível em: http://feministing.com/2011/04/16/the-feministing-five-sonya-barnett-and-heather-jarvis/(último acesso 26/06/2012)
7 “My Body Is Not An Insult” (Release para imprensa da Slut Walk de Toronto 2012). Sitio da Slut Walk de Toronto (SWTO). Maio de 2012. Disponível em: http://www.slutwalktoronto.com/admin/wp-content/uploads/2012/04/SWTO2012.pdf/ (último acesso 26/06/2012)
8 MARONESE, Nicholas. “Cop’s ‘slut’ comment draws backlash from guerilla activists”. Excalibur: York University’s Community Newspaper. Março de 2011. Disponível em: http://www.excal.on.ca/news/cop’s-‘slut’-comment-draws-backlash-from-guerilla-activists/ (último acesso 26/06/2012)
9 O que quer que eu vista, onde quer que eu vá, sim significa sim, e não significa não (tradução livre).
10 Dado disponível em: http://www.slutwalktoronto.com/(último acesso 26/06/2012)
11 LORI. op. cit.
12 O que começou como uma reação a um comentário, que tínhamos imaginado inicialmente que participariam apenas um punhado de amigos mais próximos, explodiu em uma espécie de movimento que nunca poderíamos esperar (tradução livre). Disponível em: http://www.slutwalktoronto.com/(último acesso 26/06/2012)
13 BBC BRASIL. “Comentário de policial em palestra gera protesto global da ‘marcha das vagabundas’”. G1 Mundo. Maio de 2011. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/comentario-de-policial-em-palestra-gera-protesto-global-da-marcha-das-vagabundas.html (último acesso 26/06/2012)
14 SASSAKI, Raphael. “Marcha das Vadias leva 300 pessoas para a av. Paulista”. Folha de São Paulo. Junho de 2011. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/925522-marcha-das-vadias-leva-300-pessoas-para-a-av-paulista.shtml (último acesso 12/07/2012)
15 O comediante brasileiro Rafinha Bastos fez uma piada em seu show de stand up que pautou diversos debates na opinião publica, além de um abaixo assinado e sua intimação na delegacia de polícia: “Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço”. In: “Nota de repúdio às piadas de mau gosto do ‘humorista’ Rafinha Bastos”. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Maio de 2011. Disponível em: http://www.sepm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/05/nota-de-repudio-as-piadas-de-mau-gosto-do-201chumorista201d-rafinha-bastos (último acesso 12/07/2012)
16 LOPES, Barbara. “O corpo é meu – A cidade é nossa”. Blogueiras feministas. Setembro de 2011. Disponível em: http://blogueirasfeministas.com/2011/09/o-corpo-e-meu-a-cidade-e-nossa/ (último acesso 09/07/2012).
17 Alguns exemplos de outras ações, além da marcha, organizadas pelo coletivo de Campinas (dividido em GRUVAs – grupos de vadiagem, uma ironia com “GT: grupo de trabalho”): GRUVA Apitos – distribuição de apitos anti-estupro de casa em casa; GRUVA Educação: ações em escolas – debate sobre violência e feminismo com adolescentes e jovens; Ação e articulação com a Associação Mulheres Guerreiras (Ass. de profissionais do sexo de Campinas); Realização de seminários sobre violência contra a mulher e parcerias com outras instituições (entrevista via e-mail com Aline Tavares – Marcha das Vadias de Campinas, dia 26/06/2012).
18 “Campanha Fotográfica – Feminista Por quê?”. Blog Marcha das Vadias – Brasília, DF. Junho de 2012. Disponível em http://marchadasvadiasdf.wordpress.com/campanha-fotografica-feminista-por-que/# e http://feministaporque.tumblr.com/(último acesso 09/07/2012)
19 Esposa na cozinha. Prostituta na rua (tradução livre).
20 “Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Brasília – Por que marchamos?”. Blog Marcha das Vadias – Brasília, DF. Junho de 2011. Disponível em http://marchadasvadiasdf.wordpress.com/manifesto-porque-marchamos/ (último acesso 09/07/2012)
21 NEDER, Renata. “Cidades mais seguras para as mulheres”. Mulher 7×7 – Época. Agosto de 2011. Disponível em: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/08/20/cidades-mais-seguras-para-as-mulheres/ (último acesso: 09/07/2012)
22 Na rua, sobre um espaço público, a mesma mulher que é “invisibilizada” como sujeito social, sofre de uma “hiper-visibilização” como objeto de atenção (tradução livre).
23 Sem esquecer esses são os números que chegaram às estatísticas, pois o mesmo sistema que naturaliza a “cultura de estupro” também faz as mulheres esconderem, não delatarem, se sentirem culpadas e/ou não terem coragem de declarar que foram violentadas.
24 A rua é a cena de sua escrita (tradução livre).
25 Frase comum nos cartazes, cantos e pinturas nos corpos das marchas.
26 O Peitaço é uma referencia a outra manifestação performática muito comum no movimento gay, o Beijaço. Nesta performance, um grupo de pessoas invade um local acusado de discriminação de afeto homossexual e realiza um grande beijo coletivo. Vale ressaltar que os beijaços se utilizam da internet para divulgação das manifestações, funcionando similarmente aos flashmobs (o primeiro protesto reuniu duas mil pessoas apenas com a divulgação digital). Outra referencia é o Mamaço, que aconteceu em maio de 2011, no qual diversas mães amamentaram em público num centro cultural no qual uma mulher tinha sido impedida de amamentar. Depois o Mamaço se repetiu no Facebook, quando a rede social censurou uma foto de uma mãe amamentando, diversas mulheres colocaram fotos de amamentação nos seus perfis digitais da rede social.
27 OLIVEIRA, Everth Q.“A Marcha das Vadias e a intolerância do movimento feminista”. Ecclesia Una. Maio de 2012. Disponível em: http://beinbetter.wordpress.com/2012/05/27/a-marcha-das-vadias-e-a-intolerancia-do-movimento-feminista/ (último acesso 09/07/2012)
28 MORAIS, Samantha. “A Marcha das Divas é para vc que não se sentiu a vontade em participar da Marcha das Vadias mas tem vontade de lutar a favor das Mulheres contra Violência Sexual”. Blog Samantha Morais. Junho de 2012. Disponível em: http://samanthamoraes.blogspot.com.br/2012/06/marcha-das-divas-e-para-vc-que-nao-se_10.html(último acesso 09/07/2012)
29 MEXY & JO “Slutwalk, Prostitutas e Nossas Apropriações”. Krasis. Maio de 2011. Disponível em: http://krasis.wordpress.com/2011/05/11/slutwalk-prostitutas-e-nossas-apropriacoes/ (último acesso 09/07/2012)
30 WALIA, Harsha. “Slutwalk: To march or not to march” Rabble. Maio de 2011. Disponível em: http://rabble.ca/news/2011/05/slutwalk-march-or-not-march (último acesso 09/07/2012)
31 Eu nunca irei revindicar o termo Vadia – para nunca permitir que a violência masculina e o ódio à classe prostituída torne-se ainda mais invisível pelas mulheres que estão dizendo que tudo bem ser chamada de puta. Slut é um termo masculino de profundo desprezo e ódio para mulheres e meninas – mas para aquela vadia que está no mais baixo nível de degradação, o que os homens dizem é que ela não é nada mais que uma coisa que ele vai foder e jogar fora. Como é possível reinvindicar isso? (…) Eu não posso esquecer o veneno desse termo – Eu queria, com todo meu sangue, que eu pudesse (tradução livre). In: MOTT, Rebecca. “The Ultimate Slut”. Rmott62. Maio de 2011. Disponível em: http://rmott62.wordpress.com/2011/05/10/the-ultimate-slut/ (último acesso 09/07/2012)
32 Frase comum nos cartazes, cantos e pinturas nos corpos das marchas.
33 In: VALENTI, op. cit.
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