A luta anti-proibicionista também é Vadia!
Em decorrência da cultura profundamente machista em que vivemos, somos obrigadxs a assistir cotidianamente todo o tipo de violência de gênero. Seja a partir das aterrorizantes taxas de estupro e violência doméstica, da mercantilização do corpo feminino, menores sálarios e até mesmo na lamentável guerra às drogas, é inegável que são as mulheres quem pagam os maiores preços.
Hoje, o proibicionismo é causa do encarceramento da grande maioria das mulheres no Brasil. Desde a entrada em vigor da atual Lei de Drogas, em 2006, até o final de 2010, o número de presas em razão de drogas aumentou em 159%! Enquanto 25% dos detentos estão presos por crimes relacionados a drogas, no universo feminino esse número chega a quase 60%, taxa que vem aumentando exponencialmente no país e no mundo. Algumas foram presas por fazerem do tráfico seu meio de subsistencia ou por serem usuárias, mas, de maneira recorrente, por levar drogas aos companheiros nas prisões. Assim como no universo masculino, são majoritariamente mulheres pobres e negras.
Nos casos de violência de gênero, a culpa sempre recai sobre a vítima e os questionamentos frequentemente dizem respeito à sua moral: roupas, comportamento, lugares inadequados e, não raro, se a mulher estava sob efeito de alguma substância entorpecente, seja álcool ou alguma droga ilícita. É como se a mulher não tivesse o direito ao próprio corpo, ao prazer e ao uso daquilo que lhe convém. No caso das drogas ilegais, os estereótipos são ainda mais reforçados. Quando uma mulher insiste em ser dona de seu próprio corpo usufruindo do entorpecimento, por exemplo, é vista com desconfiança, desqualificada, tida como louca, deprimida, disponível, prostituta, drogada, em outras palavras, uma VADIA.
O caso da agressão do ator Dado Dolabella contra a atriz Luana Piovani é o perfeito exemplo das desqualificações que a mulher sofre para ser culpabilizada pela violência sofrida. Após um recurso do réu, foi decidido que o caso não se encaixaria na Lei Maria da Penha, pois a atriz não podia ser considerada uma mulher hipossuficiente ou em situação de vulnerabilidade, vulgo porque era insubmissa, VADIA. Quando o Ministério Público resolveu recorrer da decisão, Dado decidiu partir para outra argumentação: Luana estava sob efeito de maconha quando foi agredida, portanto, seu depoimento não é válido. Por supostamente ter fumado um baseado ela é considerada alguém que não pode denunciar a violência que sofreu. Machismo e moral proibicionista se unem, assim, numa tragédia onde se tenta a todo custo calar e culpar a vítima pela agressão sofrida.
Entendemos que as duas opressões não raramente se entrelaçam de maneira violenta e desastrosa. Mas, mais que isso, acreditamos que as lutas antiproibicionista e feminista estão unidas na mesma ânsia pelo livre decidir sobre nossos corpos independentemente da crença ou moral alheias, sendo que a legalização do aborto, uma das principais lutas do feminismo e a liberdade sexual proclamada pelas vadias, são pautas que têm direta relação com a luta pela legalização das drogas, todas reivindicando autonomia do próprio corpo e liberdade de escolha. Nesse sentido, a luta pela legalização das drogas também é uma luta VADIA!
Ressaltamos a preocupação feminista dentro de uma militância antiproibicionista e chamamos atenção para a necessidade de reflexão antiproibicionista dentro da atuação feminista.
>>> Marcharemos até que todxs sejamos livres!
>>> VENTRE LIVRE, CABEÇA FEITA.
Créditos
Texto escrito em nome do MLM – Movimento pela Legalização da Maconha em parceria com uma vadia de Campinas, para ocasião da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro, 27/07/2013. Aqui ele foi levemente alterado.
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