Relato de violência física
Sábado eu acordei e quando me olhei no espelho procurei marcas no pescoço. Olhei no braço esquerdo e tinha algumas bolas roxas, marcas de dedos provocadas no dia anterior, marcas que não ocorreram pela primeira vez por causa de agressões, que ocorreram uma, duas, três vezes e mais.
Eu acho que as agressões começaram um dia em que estávamos discutindo no carro dele, quando saí do carro no meio da briga bati a porta forte e depois disso ele saiu do carro e veio me “peitar”, achei que fosse apanhar nesse dia…
A agressão foi piorando com o tempo, ele sempre me convencia de alguma forma que aquilo tudo não era agressão e que ele nunca tinha me batido e que nunca ia me bater, e que muitas vezes fazia aquilo por culpa minha. Até que sexta quando estávamos discutindo ele se descontrolou e começou a bater bem forte e várias vezes no portão da minha casa (onde discutíamos).
Numa dessas eu tentei impedir que ele batesse no portão, e por isso, na volta ele segurou meu braço com muita força e continuava segurando, mesmo eu falando desesperada que estava doendo (não foi a primeira vez que ele havia feito isso durante o namoro).
Depois desse momento ele segurou meu braço com muita força mais algumas vezes, numa delas ele me jogou contra a parede, e depois me levou à força até meu quarto. Em toda essa situação eu chorava e tentava empurrar ele pra sair correndo dali. Até uma hora em que ele, depois de ter me jogado na cama algumas vezes, me jogou de novo e por cima de mim apertou meu pescoço…
Nesse dia eu ouvi “Você acha que só porque é mulher que não vai apanhar?”, “Você vai bancar a vítima ou a agressora agora?”, “eu não estou te batendo, no dia em que você apanhar vai saber que apanhou” e mais coisas do tipo…
No fim, ele foi embora pra cidade dele, depois de provavelmente ter se cansado de me impedir sair do meu quarto e de me ver chorando encolhida ali na cama. Senti alívio na hora porque estava com bastante medo. Não foi a primeira vez que ele deixou marcas roxas e me impediu de sair de algum lugar pela força.
O pior de tudo é receber isso de alguém que diz que te ama, alguém que ao invés de te proteger, te agride nesse nível. O pior é ser alguém do seu próprio curso da faculdade, alguém que todos consideram super simpático, educado, inteligente, estudante universitário que provavelmente numa discussão sobre violência contra a mulher levantaria a bandeira contra a violência.
Na segunda-feira entrando no ônibus indo pro trabalho, recebi mais uma cantada de dois homens (uma dentre as muitas nojentas que tenho que ouvir quase todos os dias), meu estômago se retorceu de todo aquele assédio, toda aquela agressão, que eu como mulher sofro e sofri vários dias de vários homens. Nesse dia, eu virei, mostrei o dedo, xinguei.
Entrando no ônibus, outro homem que havia visto a cena falou pra mim: “enquanto não apanhar, não vai aprender”.
Não sei se ele tinha se referido à mim ou aos outros homens que haviam me falado aquelas coisas, mas creio que foi à mim. Naquele momento, pensei comigo numa reposta: “moço, se calada eu já apanho, vou pelo menos desabafar, encarar, tomar alguma atitude e ficar na esperança que quem me ouça tome alguma também mesmo que me batam de novo”.
(Imagens: Mirror, Mirror, Le Voci Degli Altri, Domestic Violence Survivor)
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